Por que a Psicologia tem tudo a ver com sua liberdade, dignidade e direitos humanos?
- Giovanna Riça
- 4 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 10 de jul.

Quando pensamos em psicologia, muitas vezes a imagem que vem à mente é a de uma sala silenciosa, uma pessoa sentada numa poltrona e uma profissional fazendo perguntas ou oferecendo escuta. Essa imagem não está errada — mas é apenas uma parte da história.
A atuação da/o psicóloga/o vai muito além do consultório. Ela é, antes de tudo, uma prática ética, política e profundamente humana. E tudo isso começa com um princípio fundamental: o compromisso com os Direitos Humanos.
Antes da técnica, o compromisso com a vida
O Código de Ética da Psicologia é um documento que orienta a prática profissional. Ele não apenas define limites, mas também aponta caminhos. Logo no início, ele afirma que a/o psicóloga/o deve basear seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano.
Esses valores não estão ali por acaso. Eles vêm da Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em 1948, e também aparecem na nossa Constituição Federal. São princípios que reconhecem que todas as pessoas têm direito a existir com respeito, cuidado e proteção — independentemente de quem são.
E quando falamos em “todas as pessoas”, é importante reforçar: estamos falando de todas mesmo. Mulheres. Pessoas LGBTQIA+. Pessoas negras, indígenas, com deficiência, imigrantes, pessoas de todas as idades, religiões e classes sociais. Ninguém está fora.
Psicologia não é neutra!
Dentro da Análise do Comportamento, entendemos que o comportamento humano é resultado das interações entre a pessoa e o contexto em que ela vive. E esse contexto não é neutro: ele é atravessado por desigualdades, opressões, padrões sociais e relações de poder.
Por isso, uma psicologia ética não pode se contentar em tratar o indivíduo sem olhar para o contexto em que está inserido.
Ela precisa, sim, fazer uma leitura crítica da realidade:
Quem tem acesso a cuidado psicológico?
Quem é constantemente silenciado ou patologizado?
Que corpos, histórias e vivências são marginalizadas?
A/o psicóloga/o, ao reconhecer essas questões, se posiciona. Não como juíza ou salvadora, mas como profissional comprometida com o bem-estar e a autonomia de quem atende.
Direitos Humanos como prática cotidiana
Respeitar os Direitos Humanos na prática psicológica não é um ideal distante. É algo concreto, que aparece em atitudes simples e potentes:
Não presumir identidades, orientações ou crenças.
Escutar sem julgamento.
Lutar contra práticas discriminatórias, inclusive dentro da própria profissão.
Questionar normas que excluem, adoecem ou invisibilizam.
É também reconhecer que o sofrimento psíquico muitas vezes nasce ou se intensifica justamente pela exclusão social, pela violência estrutural e pela negação do direito de ser quem se é.
Por onde começamos?
Começamos por lembrar: psicologia é, antes de tudo, sobre pessoas.
Pessoas com histórias únicas, mas também atravessadas por estruturas sociais que afetam profundamente sua saúde mental. Quando a/o psicóloga/o reconhece isso e se compromete com o princípio fundamental do Código de Ética, ela deixa de ser apenas uma prestadora de serviço — e se torna uma aliada na construção de um mundo mais justo, seguro e possível de se viver.
Esse é o convite que a psicologia ética faz: colocar a vida no centro da prática, com liberdade, dignidade, igualdade e integridade como norte.
Se você é psicóloga, talvez seja hora de revisitar esse princípio com mais presença. Se você é paciente ou deseja iniciar um processo terapêutico, saiba que você tem o direito de ser acolhidx com respeito e humanidade. Sempre.